ABRAPPAC
Brasil ocupa 4ª pior posição em saúde mental: saiba agora como a Cannabis pode ajudar

Relatório publicado este mês sobre saúde mental internacional expôs que Brasil não vai bem com o cuidado da saúde mental. Neste contexto, saiba como a Cannabis desponta como uma alternativa segura nos tratamentos para saúde mental.

Denise Tamer

Compartilhe:
saudemental

4.5/5 – (10 votos).

A saúde mental no Brasil é uma preocupação crescente. E este mês,  a publicação do estudo The Mental State of the World pela plataforma neurotech Sapien Labs levantou mais um alerta.

A plataforma que mapeia a qualidade da saúde mental ao redor do mundo pesquisou sobre 71 países e posicionou o Brasil na 4ª posição entre os piores, com nota 53 de um total de 110. O país supera apenas África do Sul (50), Reino Unido (49) e Uzbequistão (48).

Brasileiros estão entre os que mais relatam sentir ansiedade, estresse e dificuldades com a parte mental de sua saúde

O resultado deste report internacional não trouxe nenhuma novidade surpreendente. Somos um “país de ansiosos”, como afirma o médico psiquiatra, Dr. Daniel Munhoz Moreira, CRM 184.340.

Desafios da saúde mental no Brasil: a Cannabis como alternativa promissora

Para o Dr. Daniel, produtos à base de Cannabis, em especial os canabinoides como CBD e o THC, podem ajudar, e muito, nos cuidados da saúde mental. Porém, os tratamentos com a Cannabis são bem diferentes dos realizados com remédios alopáticos tradicionais, conhecidos como “tarja preta”. Para ele, “os benefícios vão além de apenas tratar doenças”.

Sendo assim, a Cannabi tem o perfil de trazer qualidade de vida, ser um produto anti-inflamatório, proporcionar uma melhora das inflamações do corpo e do cérebro. Além de ter um papel no nosso intestino.

“É uma medicação que busca equilíbrio, diferente de outras, que atuam nos sintomas, mas não trazem equilíbrio da pessoa, não a ajudam a continuar se sentindo pertencente a si própria. A Medicina canabinoide traz a possibilidade de se sentir bem”, explicou o Dr. Daniel.

Ainda há estigmas sobre os cuidados com a saúde mental no Brasil?

Entretanto, ainda há estigmas associados às doenças mentais. Porém, programas de conscientização e iniciativas independentes desempenham um papel fundamental na promoção da saúde mental. No Brasil, existem esforços para expandir o acesso a serviços de saúde mental e reduzir o estigma associado às doenças mentais, embora estes estigmas e preconceitos ainda sejam uma realidade.

“É muito importante quebrar o estigma de quem faz um tratamento psiquiátrico. Nossa sociedade é preconceituosa, infelizmente ainda há muita psicofobia, o que já virou crime, e falar sobre isso vai quebrando preconceitos, para que as pessoas demonstrem que não estão bem e busquem ajuda. As pessoas que fingem estar bem são as que mais se matam, com pensamentos suicidas. É importante falar para estas pessoas que isto é uma doença, que existe uma forma de tratamento, que pode voltar a ter a qualidade de vida dela. E que ela não é louca por estar indo a um psiquiatra. Ela não é louca. O que é louco é este preconceito”, avalia a psiquiatra Dra. Felianne Meirelly Alves, CRM 7401.

Sofre com insôniaestresseansiedade e depressão: saiba como a Cannabis pode te ajudar

As principais condições que mais afetam a qualidade de vida e a saúde mental das pessoas são ansiedade, estresse, insônia e a depressão. Muitas vezes são situações que se alimentam causando um ciclo vicioso. O objetivo é utilizar a Cannabis em seu tratamento e mudar a dinâmica para um ciclo virtuoso incorporando exercícios físicos e terapia na sua rotina.

Óleos à base de canabinoides

Ricos em canabinoides, como o CBD e o THC, os óleos podem ser aliados nos cuidados da saúde mental e propiciar uma interação saudável do paciente com o mundo. Além disso, muitas vezes, os produtos à base da planta não causam efeitos colaterais.

Os produtos à base de Cannabis podem ser considerados medicamentos naturais. Embora seja imprescindível o acompanhamento durante o tratamento, sabe-se que as moléculas presentes na planta podem atuar proporcionando uma regulação no corpo. Tudo porque temos no nosso corpo o sistema endocanabinoide, um sistema regulador do nosso organismo, atuando em diversas funções, como sono, imunidade, humor, fome e sensações diversas, como por exemplo, a dor.

“Há estudos de como o desequilíbrio do sistema endocanabinoide está envolvido em doenças neurodegenerativas, depressão e ansiedade, fibromialgia, doenças intestinais, entre outras”, explicou o médico Dr. Alexandre Assuane.

Já o  Dr. Rodrigo Eboli da Costa, CRM 142765, explica que os fitocanabinoides são medicamentos com base  no sistema endocanabinoide, que é algo que temos, produzimos canabinoides no corpo.

“Temos sempre que trazer a informação: nós produzimos os nossos canabinoides. Não é apenas porque ele é natural e é um fitoterápico, mas porque estes fitocanabinoides simulam canabinoides que nós produzimos. Então, o efeito colateral é muito menor”.

Marque sua consulta e cuide da saúde mental com Cannabis aqui no Brasil

O uso medicinal da Cannabis é possível desde que com acompanhamento médico. Portanto, se você deseja incluir a planta no seu tratamento, o primeiro passo é acessar a nossa plataforma de agendamentos. Lá, você encontra mais de 300 médicos e dentistas, que estão preparados para avaliar o seu caso e recomendar o melhor caminho. Marque já sua consulta!

 Post Views: 23

Denise Tamer

Mãe, jornalista formada na PUC-RS com mestrado em comunicação e cultura realizado no Uruguai, na Universidad Católica de Uruguay. Foi em Montevidéu, onde estudou, trabalhou na UNESCO e mergulhou no universo da Cannabis. Atualmente vive na fronteira entre Uruguai e Brasil e atua nos diversos ecossistemas da Cannabis medicinal.

Tico Santa Cruz faz desmame de tarja preta com CBD

Dois meses atrás, Santa Cruz, de 46 anos de idade, revelou ter iniciado um tratamento com Canabidiol (CBD), uma das moléculas medicinais da Cannabis, para tratar insônia e ansiedade.

Manuela Borges

Compartilhe:

Tico Santa Cruz usa Cannabis para ansiedade

4.6/5 – (12 votos).

Vocalista do Detonautas começou a se tratar com Canabidiol há 2 meses e já conseguiu reduzir – em mais da metade – o medicamento ansiolítico, com ótimo resultados, segundo o artista

Nas redes sociais o vocalista da banda Detonautas, Tico Santa Cruz, faz promoção pela conscientização do cuidado com a saúde mental. A campanha acontece nesse mês conhecido como ‘janeiro branco’, uma data eleita para chamar atenção para patologias psiquiátricas.

“Eu vim perguntar pra você, como que tá a sua saúde mental? Você se importa com isso? Como que está a saúde mental da sua família”, questiona o músico.

 2 meses de CBD com ótimos resultados

Dois meses atrás, Santa Cruz, de 46 anos de idade, revelou ter iniciado um tratamento com Canabidiol (CBD), uma das moléculas medicinais da Cannabis, para tratar insônia e ansiedade.

Há 20 anos o cantor precisa usar medicamento controlado para dormir. A falta de rotina ao longo das turnês ocasionou problemas para manter um sono saudável, admite Tico.

Rotina da banda afetou o sono do artista

“Em alguns momentos, o Detonautas fazia cerca de 18 shows por mês. Eu dormia muito pouco. Ao longo do dia tinham várias atividades e entrevistas. Minha voz acabou sendo prejudicada com problemas na prega vocal por causa das noites mal dormidas”, relembra o artista.

Na ocasião, em 2004, Tico topou participar de um Globo Repórter sobre insônia. Durante uma semana, o sono do músico foi monitorado pelo Instituto do Sono. De acordo com os pesquisadores, se o Tico não mudasse a rotina, sua saúde seria gravemente afetada num curto período de tempo.

Psiquiatra receitou tarja preta

Tico Santa Cruz faz desmame de ansiolítico com CBD
Tico Santa Cruz faz desmame de ansiolítico com CBD

“Foi aí que eu busquei um psiquiatra. Ele me receitou um remédio que reduz a ansiedade e com isso acaba induzindo o sono. Entre o prejuízo de perder a voz um lado, e de tomar tarja preta de outro, busquei a segunda opção”, recorda.

Mas agora essa segunda opção já não é mais suficiente. O cantor admite que ficar refém de uma droga ansiolítica durante duas décadas é tempo demais, por isso decidiu buscar o uso medicinal da Cannabis, como uma alternativa natural à droga tarja preta.

Efeito colateral da tarja preta afetou a memória

“Para o psiquiatra não era preciso rever a medicação, uma vez que eu estava tomando 2 ml de forma contínua, sem necessidade de aumentar a dose. Mas eu percebi que estava sendo afetado pelos efeitos colaterais do remédio, com a perda de memória. Foi então que busquei um prescritor de Cannabis”, detalha Santa Cruz.

De acordo com o músico, em pouco mais de 60 dias administrando o Canabidiol, duas vezes ao dia, ele já conseguiu reduzir em 1.25 mg a medicação tarja preta da sua rotina.

Ansiedade controlada

“Estou me adaptando muito bem. Nas primeiras noites foi bem complicado reduzir a medicação. Mas depois senti que a ansiedade foi controlada. Houve uma redução na quantidade de pensamentos e as noites de sonos estão melhores”, comemora o músico.

Para Santa Cruz, a prova de fogo foi dormir dentro do ônibus da banda. “Achei que não iria pegar no sono, mas dormi muito bem na estrada”, diz o cantor.

Modulação da dosagem

Como relação ao humor, Santa Cruz diz que ainda não percebeu mudanças significativas. “Sinto mais foco e uma redução da ansiedade. No começo, eu fiquei sonolento durante o dia, mas achei a minha dose e estou bem. Agora, consigo malhar, nadar e fazer tudo o que tenho que fazer”.

Atualmente, Tico faz uso do extrato de CBD broad spectrum, formulações que todos contêm os Canabinoides da planta, exceto o Tetrahidrocanabinol (THC), a molécula psicoativa da maconha, que também possui propriedades medicinais.

Meta é desmamar o ansiolítico

“Quero avaliar melhor os resultados. Ver se consigo desmamar completamente do medicamento. E até introduzir novas formulações. O médico disse que o THC é interessante para modular o humor”.

O músico diz que apesar de já ter tido inúmeras experiências com a maconha, parou de fumar a erva por causa de episódios de síndrome do pânico.

“Por isso, o médico receitou o broad spectrum, sem THC. Mas quem sabe futuramente, numa dose controlada seja interessante incluir para modulação do humor”, prospecta o artista.

Não quer entrar no ativismo

Tico Santa Cruz, que é conhecido por levantar bandeiras e se posicionar publicamente sobre assuntos espinhosos, diz que neste momento não quer entrar na militância pró-Cannabis.

“A demonização da maconha no Brasil e no mundo foi uma grande farsa.  Sabemos o que estava por trás da criminalização: questões raciais, competição de outras matérias-primas no mercado. A questão política, econômica e social, infelizmente, pesa mais do que a questão medicinal”.

Regulamentação beneficia vários setores

Para o músico, a criminalização da planta não traz vantagens para ninguém, uma vez que a Cannabis é uma commodity sustentável para vários setores da indústria e porque não, do mercado recreativo regulado.

“Os políticos precisam entender que a regulação traz qualidade e controle do ponto de vista das regras. Todos saem ganhando. O governo com arrecadação de imposto e o país com geração de emprego e renda”, defende.

De acordo com o músico, hoje é mais fácil comprar drogas nas ruas do que importar o CBD legalmente.

Inspiração para outras pessoas

Apesar de Tico querer ficar longe do ativismo, o músico tem exposto sua patologia nas redes sociais para que outras pessoas se inspirem na sua história, e também busquem ajuda para além do uso medicamentoso da planta.

“Fiz muitos anos terapia e agora comecei a psicanálise. Esse tipo de autoconhecimento traz clareza aos pensamentos e ajudam muito. Não quero fazer uma militância, o que posso oferecer é a experiência que eu estou tendo. Cansei de ver a minha imagem associada a alguma bandeira”, conclui.

Você sabia que o uso medicinal da Cannabis já é legal no Brasil?

O uso medicinal da Cannabis no Brasil já tem regulamentação da Anvisa, por meio da Resolução da Diretoria Colegiada RDC 660 e  RDC 327. No entanto, é essencial ter uma prescrição médica para usar produtos à base da planta.

Na nossa plataforma de agendamentos, você pode marcar uma consulta com um médico ou cirurgião-dentista, que tem experiência na prescrição dos canabinoides. Mais de 30 patologias podem se beneficiar com as moléculas medicinais da planta.

São mais de 250 especialidades de profissionais de saúde. Marque hoje mesmo sua consulta!

 Post Views: 245

Manuela Borges

Jornalista especializada em política nacional. Pós-graduada em Assessoria em Comunicação Pública e Cannabis Medicinal. Mestre em Ciência da Informação. Fundadora da InformaCANN. Correspondente em Brasília do Portal Cannabis & Saúde.

Você sabia que no Brasil, 73 milhões de pessoas enfrentam problemas relacionados à insônia? 😴 Essa condição não só afeta a qualidade do seu sono, mas também tem consequências sérias para sua saúde a curto e longo prazo.A má qualidade do sono foi recentemente reconhecida como um fator de risco para problemas cardiovasculares pela Associação Americana do Coração. Isso significa que a insônia pode aumentar o risco de problemas como infarto e AVC, além de contribuir para hipertensão e até mesmo certos tipos de câncer.Mas não se preocupe, estamos aqui para ajudar! O tratamento com cannabis medicinal, com grau farmacêutico, tem mostrado resultados promissores no combate à insônia e na melhoria da qualidade do sono. É hora de priorizar seu bem-estar e explorar opções de tratamento que realmente funcionem para você. 🌿💤Ative para ver a imagem maior.
Pré-visualização da imagem
Fitofármaco: o que é e para que serve
Captura de tela 2024-03-26 174035

Na interseção entre a sabedoria ancestral e a inovação científica, a fitofarmacologia representa como um campo essencial dentro da medicina contemporânea. Esta prática, enraizada na utilização de plantas medicinais, transcende gerações e culturas, refletindo uma tradição milenar de cura e bem-estar.

A conexão entre o ser humano e o reino vegetal, rica em história e potencial terapêutico, é a pedra angular na busca por tratamentos mais naturais e menos invasivos.

Ao longo deste artigo, propomos uma imersão profunda nos fitofármacos, partindo de sua definição até sua aplicação prática na saúde contemporânea. Abordaremos a evolução da fitoterapia, desde as primeiras civilizações que catalogaram suas propriedades medicinais até os avanços científicos atuais que validam e expandem seu uso.

Será explorada a diversidade botânica e seu papel chave no desenvolvimento de novos medicamentos, bem como o processo científico rigoroso pelo qual esses compostos naturais são avaliados em termos de eficácia e segurança.

Nosso objetivo é revelar como a integração harmoniosa entre a natureza e a ciência pode oferecer soluções promissoras para desafios de saúde atuais, sublinhando a importância de preservar esse legado natural para as futuras gerações. Preparado para embarcar nesta jornada de descoberta? Acompanhe-nos nesta exploração fascinante, onde o antigo e o novo se encontram para moldar o futuro da medicina.

Fitofármaco Desvendado: Compreendendo a Natureza Medicinal das Plantas

Os fitofármacos representam uma ponte entre o conhecimento ancestral e os avanços da medicina moderna, trazendo o poder curativo da natureza em formas que podem ser sistematicamente estudadas, compreendidas e aplicadas. Esta abordagem à saúde, que se baseia na utilização de plantas medicinais, é tão antiga quanto a própria humanidade, mas ganhou um novo fôlego com os avanços tecnológicos e metodológicos da ciência contemporânea.

O processo de transformação de uma planta medicinal em um fitofármaco começa com a identificação e seleção de espécies vegetais com potencial terapêutico. Estudos etnobotânicos e históricos frequentemente orientam essa busca, apoiados por conhecimentos transmitidos ao longo de gerações.

Uma vez identificadas, essas plantas são submetidas a um rigoroso processo de pesquisa que visa descobrir e isolar os princípios ativos responsáveis por seus efeitos benéficos. Este é um trabalho meticuloso que envolve técnicas avançadas de extração, purificação e análise química, buscando não apenas entender como esses compostos agem no corpo humano, mas também como podem ser otimizados para uso terapêutico.

A Cannabis destaca-se neste cenário como um exemplo perfeito do potencial dos fitofármacos. Com sua vasta gama de compostos, incluindo canabinóides e terpenos, ela serve como um modelo para o estudo de como as substâncias derivadas de plantas podem oferecer alívio para uma variedade de condições.

O CBD, por exemplo, tem sido amplamente estudado por suas propriedades anti-inflamatórias e ansiolíticas, o que o torna particularmente interessante para o desenvolvimento de tratamentos para ansiedade e outras condições relacionadas ao estresse. O THC, por outro lado, é reconhecido por suas propriedades analgésicas, o que pode ser de grande auxílio para pacientes que sofrem de dor crônica.

Além disso, a pesquisa em fitofármacos não se limita a isolar e utilizar princípios ativos individuais. Há um crescente interesse em entender o “efeito entourage”, um conceito que sugere que a eficácia terapêutica de uma planta pode ser devida à interação sinérgica entre seus diversos compostos, ao invés de apenas um único ingrediente ativo. Esta abordagem integrativa pode abrir novos caminhos para o desenvolvimento de medicamentos com menos efeitos colaterais.

O desenvolvimento de fitofármacos, portanto, é um campo de pesquisa dinâmico e complexo, que desafia continuamente nossas abordagens tradicionais à farmacologia. Ao aproveitar o vasto repertório de compostos naturais disponíveis nas plantas medicinais, a ciência moderna está descobrindo novas formas de promover a saúde e tratar doenças, reafirmando o valor inestimável da biodiversidade e do conhecimento tradicional na busca por um futuro mais saudável.

Medicina da Terra: A História Centenária dos Fitofármacos na Saúde Humana

Desde a antiguidade, diferentes civilizações reconheciam o valor medicinal das plantas. Egípcios, gregos, chineses, e povos originários utilizavam-se do vasto conhecimento botânico para tratar enfermidades. Documentos históricos, como o papiro de Ebers do Egito antigo, são testemunhos da longa relação entre humanidade e plantas medicinais, destacando a importância dos fitofármacos na fundação da medicina tradicional.

Além dos exemplos notáveis fornecidos pelas civilizações egípcia, grega, chinesa e pelos povos indígenas, a prática de utilizar plantas medicinais se estende por todo o globo, permeando praticamente todas as culturas e sociedades ao longo da história. Essa universalidade do uso de plantas na cura reflete uma compreensão intrínseca da humanidade sobre os recursos naturais como aliados na busca por saúde e bem-estar.

No subcontinente indiano, a Ayurveda, um sistema de medicina com mais de 3.000 anos, incorpora uma extensa farmacopeia de plantas medicinais. A Ayurveda, que significa “ciência da vida”, baseia-se na crença de que a saúde e o bem-estar dependem de um delicado equilíbrio entre o corpo, a mente e o espírito. As plantas, neste contexto, são vistas não apenas como agentes curativos físicos, mas também como componentes essenciais para a manutenção do equilíbrio espiritual e emocional.

Na Europa medieval, mosteiros desempenharam um papel crucial na preservação e transmissão do conhecimento botânico e médico. Monges e freiras cultivavam jardins de ervas, não apenas para uso culinário, mas também para preparar remédios baseados em plantas para tratar diversas doenças. Esses jardins eram verdadeiros centros de conhecimento e experimentação, onde o estudo das propriedades das plantas era acompanhado de práticas de cuidado e cura.

Renascimento marcou um período de redescoberta e expansão do conhecimento botânico e médico na Europa. Figuras como Paracelso, um médico e alquimista suíço do século XVI, defendiam a importância de retornar à natureza para encontrar remédios verdadeiros. Paracelso foi pioneiro na ideia de que “a dose faz o veneno”, reconhecendo que os princípios ativos das plantas podiam ser tanto curativos quanto tóxicos, dependendo da quantidade utilizada. Essa noção é fundamental na farmacologia moderna.

No Novo Mundo, após a chegada dos europeus, houve um intenso intercâmbio de conhecimentos botânicos e medicinais entre os povos originários  e os recém-chegados. Plantas nativas das Américas, como a quina (da qual a quinina, usada para tratar a malária, é derivada) e o tabaco (utilizado tanto em contextos rituais quanto por suas propriedades medicinais) foram introduzidas na farmacopeia europeia, enriquecendo ainda mais o repertório de fitofármacos disponíveis.

Essa rica tapeçaria histórica dos fitofármacos reflete a contínua busca da humanidade por entender e aproveitar os recursos da natureza para a cura. Ao longo dos séculos, a experimentação e o estudo das plantas medicinais evoluíram de práticas empíricas para uma ciência rigorosa, mas o respeito e a admiração pela capacidade curativa das plantas permaneceram inalterados. Hoje, a história centenária dos fitofármacos na saúde humana serve como uma fundação sólida para a medicina moderna, inspirando novas gerações de cientistas, médicos e pacientes a explorar as possibilidades terapêuticas que a natureza oferece.

Diversidade Botânica: Explorando Plantas Medicinais e suas Aplicações Terapêuticas

A exploração da diversidade botânica para fins medicinais é uma jornada que nos leva por todo o espectro da flora mundial, revelando um arsenal de possibilidades para a prevenção e tratamento de doenças. Além da arnica e da valeriana, cada ecossistema, desde as densas florestas tropicais até as tundras árticas, abriga espécies de plantas com potenciais terapêuticos únicos, muitos dos quais ainda estão à espera de serem descobertos ou plenamente compreendidos pela ciência moderna.

Por exemplo, a cúrcuma, uma raiz nativa do sudeste asiático, é valorizada tanto na culinária quanto na medicina tradicional por suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, atribuídas ao composto ativo curcumina. Seu uso na medicina Ayurvédica e chinesa remonta a milhares de anos, mas apenas recentemente a pesquisa científica começou a desvendar seu potencial para tratar condições inflamatórias crônicas e até mesmo certos tipos de câncer.

Da mesma forma, a camomila, conhecida por suas flores delicadas e aroma suave, é amplamente utilizada em todo o mundo como um calmante natural e anti-inflamatório. Suas aplicações vão desde aliviar o estresse e promover o sono até tratar problemas digestivos e cutâneos, exemplificando como uma planta pode oferecer múltiplos benefícios terapêuticos.

Em regiões tropicais, a graviola é estudada por suas propriedades anticancerígenas, enquanto a aloe vera, conhecida também por babosa, com seu gel refrescante, é usada há séculos para tratar queimaduras, feridas e diversas condições de pele. Esses exemplos apenas ilustram a vastidão do conhecimento tradicional e o potencial ainda inexplorado de muitas plantas medicinais.

biodiversidade dos oceanos também oferece promessas terapêuticas, com algas e outros organismos marinhos sendo investigados por suas propriedades antivirais, antibacterianas e anticancerígenas. Essa fronteira emergente na fitoterapia destaca a importância de proteger os ecossistemas marinhos, igualmente ricos em biodiversidade e potencial medicinal.

A interseção entre etnobotânica e farmacologia moderna é fundamental para o desenvolvimento de novos fitofármacos. Através do estudo de práticas medicinais indígenas e tradicionais, pesquisadores podem identificar plantas com potencial terapêutico, guiando a investigação científica em direção a compostos ativos eficazes. Este processo não apenas enriquece nosso arsenal medicinal, mas também promove uma abordagem mais sustentável e respeitosa ao uso dos recursos naturais.

A diversidade botânica, portanto, é mais do que uma fonte de novos medicamentos; ela é um lembrete da interconexão entre todos os seres vivos e a importância de preservar o meio ambiente. À medida que avançamos na descoberta e aplicação das plantas medicinais, é essencial que façamos isso de maneira ética e sustentável, garantindo que as gerações futuras possam continuar a beneficiar-se deste precioso patrimônio natural.

Eficácia Comprovada: Como a Ciência Avalia a Eficiência dos Fitofármacos

A validação científica da eficácia dos fitofármacos é um processo complexo e meticuloso, que exige uma série de estudos pré-clínicos e clínicos para garantir não apenas a eficácia, mas também a segurança e a qualidade dos tratamentos baseados em plantas. Este processo envolve diversas etapas, desde a identificação e isolamento de compostos ativos em laboratório até ensaios clínicos com participantes humanos, seguindo protocolos rigorosos estabelecidos por agências regulatórias de saúde.

Um exemplo dessa abordagem científica pode ser visto nos estudos conduzidos com a Cannabis para o tratamento de epilepsia refratária. Uma pesquisa publicada na “The New England Journal of Medicine”, conduzida por pesquisadores da Universidade de Nova York, demonstrou que o canabidiol (CBD) foi capaz de reduzir significativamente a frequência de convulsões em pacientes com síndrome de Dravet, uma forma rara e severa de epilepsia infantil. Este estudo é um marco importante, pois fornece evidências concretas do potencial terapêutico do CBD, apoiando seu uso como uma alternativa de tratamento para condições específicas de epilepsia.

Além disso, a eficácia dos fitofármacos no tratamento de dor crônica tem sido objeto de estudo em diversas pesquisas. Um estudo publicado no “Journal of Pain”, realizado por cientistas da Universidade de Michigan, sugere que o uso de Cannabis medicinal está associado a uma redução significativa no uso de opioides em pacientes com dor crônica. Os resultados indicam não apenas a eficácia da Cannabis no manejo da dor, mas também seu potencial para contribuir na crise de opióides, oferecendo uma alternativa terapêutica menos dependente e com menos efeitos colaterais.

No contexto do tratamento de ansiedade, um estudo publicado na “Journal of Clinical Psychology” por pesquisadores da Universidade de São Paulo revelou que doses únicas de CBD induziram uma redução significativa na ansiedade em pacientes submetidos a um teste de simulação de fala em público. Esse estudo destaca o potencial ansiolítico do CBD, abrindo caminho para futuras pesquisas sobre seu uso em transtornos de ansiedade.

Esses exemplos ilustram como a ciência está confirmando o potencial dos fitofármacos através de uma abordagem baseada em evidências. Através de ensaios clínicos bem desenhados e metodologicamente rigorosos, é possível não apenas confirmar a eficácia desses tratamentos, mas também entender melhor seus mecanismos de açãodosagem ótima e perfil de segurança. Este processo é fundamental para a integração dos fitofármacos na medicina convencional, garantindo que os pacientes tenham acesso a opções de tratamento eficazes, seguras e bem regulamentadas.

Conclusão: Rumo a uma Medicina mais Verde

A utilização dos fitofármacos no cenário da saúde moderna representa não apenas um retorno às raízes da medicina tradicional, mas também um passo à frente na busca por uma medicina mais integrativa, sustentável e respeitosa com o meio ambiente.

Na CannaCare, estamos ativos nessa transformação, dedicando-nos a explorar o potencial terapêutico que a natureza oferece, especialmente através do estudo e aplicação da Cannabis nos mais variados tratamentos.

Nossa missão vai além de oferecer tratamentos; buscamos promover uma mudança de paradigmas na maneira como entendemos e abordamos a saúde e o bem-estar. Reconhecemos que cada indivíduo é único, assim como são únicas as respostas aos tratamentos baseados em plantas.

Por isso, nosso compromisso é com a personalização da saúde, adaptando nossas soluções às necessidades específicas de cada paciente, garantindo não só eficácia, mas também uma experiência de cuidado verdadeiramente integrativa.

Convidamos você a se juntar a nós nesta jornada rumo a uma vida mais plena. Seja explorando opções de tratamento para condições específicas, buscando melhorar seu bem-estar geral ou simplesmente interessado em aprender mais sobre o potencial da cannabis, a equipe da CannaCare está aqui para apoiá-lo.

Oferecemos consultas especializadas, orientação personalizada e acesso a tratamentos baseados nas mais recentes pesquisas científicas, tudo isso em um ambiente acolhedor e profissional. Entre em contato conosco e dê o primeiro passo rumo a um futuro onde a medicina e a natureza caminham juntas, criando possibilidades de cura e bem-estar para todos.

Revisão médica:

Dr. Sérgio Rayol – CRM SP 165458

Diretor médico na CannaCare.

Médico pela Universidade Estadual de Pernambuco (UPE). Especialista em Clínica Médica pelo Hospital Santa Marcelina e em Hematologia e Hemoterapia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Curso de Medicina Paliativa no Instituto Pallium (Buenos Aires). Curso de Medicina Cannabinoide pela WeCann Academy

ESPECIAL: Os bilhões da economia da maconha no Brasil

Empreendedores estão criando um ecossistema de negócios baseados na cannabis, apesar do vácuo legislativo; país pode ser um dos líderes globais

ESPECIAL: Os bilhões da economia da maconha no Brasil
Ana Paula Alfano

Ana Paula Alfano08 de janeiro de 2024

    Esta é a primeira de uma série de três reportagens especiais sobre os negócios da cannabis no país.

    Uma economia da maconha vem se desenvolvendo no Brasil, mesmo sem regulamentações para o uso medicinal ou industrial. Importadores, farmacêuticas, empresas de tecnologia e associações estão criando um mercado vigoroso, apesar do vácuo legislativo.

    Um projeto de lei que prevê inclusive regras para o plantio da cannabis, hoje proibido, aguarda aprovação pelo Congresso há nove anos. Enquanto não há notícias de Brasília, os negócios se apoiam em brechas na lei antidrogas de 2006, resoluções normativas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ações judiciais. 

    Estima-se que mais de mil empresas atuem no setor, de olho em um potencial bilionário. No ano passado, só as aplicações medicinais da cannabis movimentaram cerca de R$ 700 milhões no país, um crescimento de 92% em relação a 2022, de acordo com o 2º Anuário da Cannabis Medicinal no Brasil, publicado pela Kaya Mind, startup especializada em dados e inteligência de mercado no segmento.

    Cerca de 430 mil brasileiros utilizam hoje o canabidiol – ou CBD –, canabinóide usado no tratamento de dezenas de patologias, entre elas epilepsia, depressão, Alzheimer, Parkinson e autismo. 

    O uso medicinal é apenas um dos três possíveis mercados da cannabis, ao lado do industrial e do recreativo (ou adulto), e o único atualmente permitido no Brasil.

    Mesmo que seja a fonte dos princípios ativos de medicamentos, a planta não pode ser cultivada em solo nacional. Dono de uma das agriculturas mais avançadas do mundo, o país tem o potencial de ser um líder global na produção e também no consumo da cannabis e seus derivados, pois o Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores compradores de remédios do mundo. 

    “Os olhos do mundo todo estão voltados para cá”, diz Viviane Sedola, empresária do setor desde 2018 e integrante do Conselhão da Presidência da República e de um grupo de trabalho sobre substâncias psicoativas, cuja missão é uniformizar o entendimento sobre o tema no governo federal.

    Mercado de bilhões

    Um levantamento da Kaya Mind publicado em 2021 calculou o potencial impacto econômico da cannabis no país. Usando projeções e dados nacionais e mundiais, ele apontou que, cerca de quatro anos após a aprovação de um marco regulatório – tempo necessário para ajustes do mercado –, os negócios da planta poderiam render US$ 5,3 bilhões à economia brasileira. E criar 328 mil novos empregos. Este total considera a legalização dos três usos da planta.

    Os pioneiros que já exploram a nascente economia da cannabis no país formam um grupo diverso. Na frente medicinal, alguns experimentaram os benefícios da planta para a saúde, como o ex-tenista profissional Bruno Soares, que conheceu a cannabis por seus efeitos antiinflamatórios. 

    Em 2022, Soares liderou, por meio do fundo MadFish, um aporte de R$ 12 milhões no laboratório mineiro Ease Labs, que importa e distribui medicamentos à base de cannabis.   

    Outros vêm do lado da ciência. Claudio Lottemberg, ex-CEO do hospital Albert Einstein e hoje presidente do conselho da instituição, dirige os conselhos da Zion MedPharma e da Endogen, healthtechs focadas em produtos de cannabis. Em ambas ele é sócio de Dirceu Barbano, ex-diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

    Essas startups esperam que a regularização abra o caminho para o desenvolvimento de uma indústria nacional, já que hoje muitos dos produtos têm de ser trazidos do exterior. 

    “Se o legislador ficar demorando, vão se criar caminhos para que empresas de outros países assumam um lugar que deveria ser de startups brasileiras, de indústrias brasileiras, de farmacêuticas brasileiras”, disse em entrevista recente ao Reset a advogada Patrícia Villela Marino, CEO da ONG Humanitas360 e uma das líderes do movimento que defende a legalização da cannabis.

    Casada com Ricardo Villela Marino, de uma das três famílias controladoras da Itaúsa e do Itaú Unibanco, o maior banco privado do país, ela é dona de uma das vozes mais ativas a favor da legalização. 

    Um marco regulatório também reduziria o custo dos medicamentos, tanto para o paciente final quanto para governos municipais, estaduais e federal. Dados do Ministério da Saúde e de secretarias Estaduais de Saúde compilados pela Kaya Mind mostram que o país gastou R$ 165,8 milhões com fornecimento público de medicamentos derivados da cannabis, entre 2015 e a primeira metade 2023. 

    Sem regulação, eles ainda são fornecidos pelo SUS por meio de processos judiciais. A legalização permitiria a formulação de uma política de fornecimento desses medicamentos pelo sistema, o que facilitaria ao estado controlar a compra, negociar valores e acompanhar o uso de cada paciente. 

    Sustentável e versátil

    Enquanto o Brasil explora exclusivamente o uso medicinal da cannabis, e ainda com inúmeras restrições, cerca de 50 países já regularam também o uso industrial do cânhamo.

    O cânhamo é uma variedade de cannabis com baixíssimo teor de tetra-hidrocarbinol (THC), único canabinóide com efeito psicotrópico entre as mais de 400 substâncias presentes na planta.

    Ele tem mais de 25 mil aplicações e é 100% aproveitável. Da semente é extraído o óleo, utilizado em diferentes tipos de alimentos, cosméticos e biocombustíveis. Da flor, os extratos, e do caule, fibras aproveitadas nas indústrias têxtil, alimentícia, automotiva e de construção. 

    Outra vantagem do cânhamo é a produtividade. Enquanto uma árvore comum leva quatro anos para estar apta para a produção de papel, por exemplo, ele leva quatro meses. 

    O cultivo adapta-se a vários tipos de terrenos e solos, formando raízes que ajudam a manter a umidade e limpam metais pesados da terra, por meio de um processo chamado fitorremediação. Ricos em nutrientes, seus caules e folhas também ajudam na restauração. E a produção do cânhamo é neutra em carbono.

    Num país com uma das agriculturas mais avançadas do mundo, a plantação em si já poderia ser um grande negócio, segundo Sedola.

    “Para ser plantada no Canadá, por exemplo, a maconha requer um sistema de aquecimento da água, por conta das baixas temperaturas do país”, afirma a empresária. “Nós temos clima, recursos hídricos e solo adequados para cultivar com a mesma qualidade da Colômbia, que tem várias colheitas anuais usando exclusivamente recursos naturais.” 

    E o baseado?

    A maioria dos defensores da regulamentação acredita que, para avançar, é preciso excluir do debate a legalização do uso recreativo da cannabis. O consumo adulto da planta, utilizada apenas por seus princípios psicotrópicos, é legalizado em poucos países, entre eles o Canadá e o Uruguai.

    “E ele não é consenso, muito pelo contrário”, diz Marcel Grecco, CEO do The Green Hub, plataforma de inovação e impacto do setor de cannabis. “O estigma negativo da maconha ainda barra todo o resto.”

    Grecco acredita, porém, que os avanços do mercado medicinal no país e a crescente difusão de informação sobre os benefícios da planta para a saúde podem ajudar a acelerar a regulação da vertical médica, puxando consigo a do uso industrial.

    Uma pesquisa divulgada em setembro pelo Datafolha apontou que 72% dos entrevistados são contra a legalização da cannabis para uso adulto, mas 76% mostraram-se favoráveis ao seu uso medicinal.

    “A grande divergência ainda é sobre a cadeia produtiva, se cultivamos localmente ou seguimos trazendo de fora. Queremos gerar valor dentro do país ou seguiremos dolarizando o mercado, por receio dos desvios de finalidade?”, pergunta Grecco.

    Maria Eugenia Riscala, cofundadora e diretora da Kaya Mind, fala em negacionismo. “O mercado enfrenta uma falta de informação imensa, com discursos emocionados, sem fundamentos e argumentos anticientíficos, que são amplificados por segmentos mais conservadores da sociedade.”

    As mães da maconha

    A discussão em torno da liberação do uso medicinal da cannabis no Brasil começou entre 2014 e 2015, por pressão de pais cujos filhos sofriam de patologias com tratamentos eficazes à base de canabidiol, entre elas a epilepsia e o autismo. 

    Em maio de 2015, a Anvisa autorizou, por meio da RDC 17 (Resolução da Diretoria Colegiada), a importação de medicamentos à base de canabidiol em caráter excepcional. Ela seria permitida apenas para pacientes refratários, ou seja, aqueles sem resposta a nenhum outro tipo de terapia. De lá para cá, a agência publicou novas RDCs que simplificaram critérios e burocracias de importação. 

    “A RDC 327 (de 2019) permitiu a comercialização de medicamentos à base de cannabis produzidos por empresas autorizadas em farmácias, facilitando o acesso da população a eles, e a RDC 660 (de 2022) normalizou a importação direta, para uso pessoal”, afirma Grecco.

    Além da importação e da venda em farmácias, a terceira via para a compra de medicamentos à base de cannabis são as associações. Em todas elas, é necessária receita médica, que fica retida. 

    Formadas por pacientes, familiares, profissionais da saúde e ativistas, algumas associações obtêm autorização judicial para, além de fornecer produtos, cultivar a planta. O anuário da Kaya Mind lista mais de uma centena de associações atuando no país, mas apenas 16 têm permissão judicial para o cultivo.

    Uma das primeiras a obter a autorização, em 2017, foi a Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança, ou Abrace Esperança, que mantém o cultivo de quatro hectares de cannabis em Campina Grande (PB). 

    “Ao lado das mães da maconha, que batalharam muito para conseguir tratar seus filhos com cannabis, essas associações destravaram o caminho do uso medicinal da planta no Brasil”, diz Grecco. “Sem eles, ele teria sido ainda mais difícil e lento. Portanto, são dois grupos que não podem ficar de fora do marco, precisam ser contemplados.”

    Exportador de conhecimento

    Segundo especialistas, a aprovação do marco regulatório da cannabis também dará ao Brasil condições de exercer seu potencial protagonismo na produção científica na área. 

    Pesquisas já são permitidas segundo a lei antidrogas, de 2006. Mas, sem a regulamentação, obter licenças e insumos para desenvolvê-las é um processo lento e difícil. “Hoje a China e os Estados Unidos produzem diversas patentes sobre o uso do cânhamo, por exemplo, porque podem cultivá-lo. Nós estamos ficando para trás”, explica Bruno Pegoraro, presidente do Instituto de Pesquisas Sociais e Econômicas da Cannabis (Ipsec). 

    “Perdemos uma grande oportunidade de exportar conhecimento sobre cannabis. O Brasil tem os melhores cientistas do mundo, mas a planta ainda fica fora de seus estudos”, concorda Maria Riscala. 

    Em outubro, a Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, entrou com pedido de autorização na Anvisa para o cultivo de 5 mil plantas. O objetivo, com isso, é criar o primeiro banco genético de Cannabis sativa do país.

    Com os primeiros resultados, seria possível estabelecer parcerias com bancos genéticos de cannabis em diferentes países, formando uma rede global de conhecimento.